domingo, 9 de setembro de 2007

Ando por aí sem entender

Terceiro Blog e agora é sério. Promessa minha para mim, logo, é pra valer!

Nas minhas andanças por esse mundo (que atualmente vai da Barra para Botafogo, passando por Ipanema, Gávea, vez ou outra dando uma chegadinha no Leblon e, quando chove, pela Lapa) posso dizer que, quanto mais tento entender o porquê de tantas coisas que acontecem à minha volta, mais me convenço que eu não entendo nada mesmo e que , meus recém completados 28 anos de idade me trouxeram um conhecimento ainda primitivo sobre a vida.

Aquela famosa frase de Sócrates "Só sei que nada sei" me acompanha diariamente nessa jornada pela vida. Ela é atual e atemporal e com certeza vai utrapassar as gerações que descenderem de mim: meus filhos, netos, bisnetos, tataranetos...todos, em algum momento das suas vidas perceberão que nada sabem sobre nada, ou sobre tudo, ou...bem, não importa, ninguém vai entender nada mesmo.

Até bem pouco tempo atrás eu achava - prepotentemente - que ninguém conhecia mais sobre mim do que eu mesma. Mero engano. Há cerca de 1 ano e meio me rendi à auto-descoberta através da análise. Descobri que sou um mistério ambulante, capaz de me surpreender com as minhas próprias atitudes. Estou me descobrindo a cada dia e, confesso, não sinto orgulho de algumas coisas que se revelaram para mim, sobre mim. Fraquezas comuns a qualquer ser humano, mas que recaem como um golpe contra o perfeccionismo que tanto almejo. Descobri que perfeição é algo inalcançavel. Você pode passar a vida inteira tentando ser perfeita, mas se você parar para analisar, as pessoas sempre estão "buscando" a perfeição, e eu, particularmente, não conheço ninguém que já a tenha encontrado.

A grande verdade é que essa falta de entendimento sobre o que fazer, como ser, agir e pensar, sufoca e angustia. Porque no final, o que todo mundo quer mesmo é encontrar a tal da felicidade e fazer com que ela perdure por todos os dias da sua vida. Mas quando finalmente você pensa que entendeu alguma coisa sobre você mesma e está pronta para executar o seu plano de mudanças pessoais rumo à felicidade, vem a tal da imperfeição e puxa o seu tapete, desvendando o seu "eu", que estava ali o tempo todo, apenas esperando para ser desmascarado. Ele se revela e te dá um toque: você quer mudar o quê se não entendeu coisa nenhuma? Então você volta, pára, analisa, pensa, repensa e decide: preciso de tempo para entender, maturidade para agir, base para mudar. Entender e aceitar que não entender faz parte e que só se adquire conhecimento com muita doação, atenção ao mundo externo e descentralização do seu próprio "eu".

Entendeu?

É claro que depois de tanto falar sobre não entender "lhufas"de coisa-nenhuma, não poderia deixar de encerrar com um texto de Clarice Lispector, minha fonte de inspiração para prosseguir com esses rabiscos que já andavam meio esquecidos no lado direito do cérebro. Devo em grande parte à ela a descoberta dos prazeres da leitura. Clarice também não entendia nada, e isso me conforta.

"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender do modo como falo, é um dom. Não entender mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."

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