segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Horário de Verão - Clarice Lispector


Se me perguntassem que horas são, eu me vestiria com o decoro da demência e diria que horas são no Líbano. Não é que eu quisesse enganar alguém. Mas qualquer um que tivesse a sede que tenho pelo ininteligível das existências aceitaria o horário informado e quem sabe compraria uma esfiha na esquina, induzido pelo segundo estrangeiro.
Sábado. Duas e quarenta e sete da madrugada. O horário de verão chegou a seu fim e não sei onde colocar esta hora a mais. Porque nascemos perdendo espaço, espaço que era nosso, e ganhar é quase inaceitável. Quem nos compra? Quem nos compra quem sabe encontrando um motivo pelo qual se vale a pena parar de chorar? Não sei, tento esconder esse bebê prostituta que fui. Eu não sou aquela garota. Quando eu estiver morrendo alguém me avise, preciso chorar ao berros para chamar a atenção de braços amorosos que me esperam no claro do outro lado.
Mas e essa hora nova. Essa hora nova não passa...

E não passa mesmo...afff!

Um comentário:

Paulo Tamburro disse...

CAROL, amante dos livros! Que fatalidade desconcertante.

Olhei-me o corpo inteiro e não ví nenhuma folha escrita sequer,capa dura , nem mole, apenas uma página em branco esperando que você a preencha, visitando meus blogs que pretendo, sejam de humor.

Um abração carioca!